terça-feira, 18 de maio de 2010

super mário

o homem do botão

quando a velha nave espacial do mundo for um
[dia a pique
não haverá iceberg nenhum que o explique... apenas
um de nós, em desespero
- como quem se livra de terrível dor de cabeça
[com uma bala rápida no ouvido -
vai apertar primeiro o botão:
clic!
tão simples... e os mais espertos venderão,
a preços populares, arquibancadas na lua
ou caríssimos camarotes de luxo
para que possam todos assistir à nossa última
[função
o perigo
é que a arquibancada desabe
ou que a própria lua venha a cair no caldeirão fervente.
enquanto isso, deus, que afinal é clemente,
põe-se a cogitar na criação, em outro mundo,
de uma nova humanidade
- sem livre arbítrio -
principalmente sem livre arbítrio...
mas com esse puro instinto animal
que o homem do botão atribuía apenas às espécies
[inferiores.

porto parado

no movimento
lento
das barcaças
amarradas
o dia,
sonolento
vai inventando as variações das nuvens...

matinal

entra o sol, gato amarelo, e fica
à minha espreita, no tapete claro.
antes de abrir os olhos, sei que o dia
virá olhar-me por detrás das árvores.

ah! sentir-me ainda vivo sobre a face da terra
enquanto a vida me devora...
me espreguiço, entredurmo... o anjo da luz espera-me
como alguém que vigiasse uma crisálida.

pé ante pé, do leito, aproxima-se um verso
para a canção de despertar:
os ritmos do tráfego vibram como uma cigarra,

a tua voz nas minhas veias corre,
e alguns pedaços coloridos do meu sonho
devem andar por esse ar, perdidos...

continua...




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